sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Arte Suave aplicada aos Concursos Públicos - 10 abordagens análogas.

“Pessoal, atentem para os concursos públicos, é uma vaquinha magra que irá lhes fornecer um copo de leite todo dia- vocês não ficarão ricos, mas de fome não irão morrer.” a frase veio aos meus ouvidos dentro de uma sala do curso de Medicina Veterinária, e teve como emissor um professor da disciplina Ecologia, isso nos anos finais da década de 90. 
O que o mestre estava profetizando era sobre o valor da estabilidade de um emprego, embora os salários oferecidos sejam, relativamente, menores do que os oferecidos na esfera privada ou nas carreiras autônomas e empreendedoras. Fui contemplado com esse conselho e consegui minha primeira aprovação para um emprego público no concurso para Agente de Segurança Penitenciária do estado de Pernambuco em 1998. Porém, se tivesse absorvido, à época, a dica com mais afinco, acredito que não tivera adquirido apenas uma “vaquinha magra” e sim uma “vaca holandesa com produção leiteira digna de campeã de exposição do gênero”, visto que as provas públicas não impulsionavam a atual “indústria” dos concursos, e conseguir aprovação não demandava de esforços exclusivos. Para ter-se ideia, fui aprovado (dentro das vagas do certame) estudando, única e exclusivamente, durante o expediente do trabalho (trabalhava no comércio). E entre um cliente e outro dava uma lida no material, uma “apostila” comprada em uma banca de jornal que continha, além dos erros de português, uma porção equivocada do edital do concurso. O fato é que hoje, por este método, muito provavelmente, não obteria sucesso em nenhum concurso que propicie o almejado “copinho de leite”, visto que a aprovação passou a ser fruto de uma preparação que envolve planejamento, disciplina, esforço, abstenção de lazeres, investimento financeiro (muito), cobrança- sua, da família, amigos e inimigos-, bem estar psicoespiritual, e, a pior de todas, a incerteza. Estudar para concurso difere, dentre outros aspectos, dos outros tipos de “estudo” visto que não se consegue título de “concurseiro”, ou seja, três, quatro, cinco anos de investimentos para a aprovação em um concurso não valerá muita coisa- para não dizer “de nada”- se o nome do candidato não constar na lista de aprovados. Já estudar para uma graduação, para uma especialização, para um mestrado, etc. ao final do investimento obtém-se o título, e este imprescritível. Logo, além do desejo de se obter um cargo público, têm-se a máxima propagada entre os concurseiros de batalha: “não se estuda para uma prova de concurso, se estuda até passar no concurso.”. Dentro deste universo desgastante de guerra intelectual, procurei utilizar (diretamente e por analogia) os ensinamentos das artes marciais na preparação para as provas públicas, ao qual seguem algumas ferramentas utilizadas. 


1. Escolha a área ao qual você almeja prestar concurso, levando em conta sua vocação e prazer em trabalhar no segmento, assim como na escolha de uma modalidade de arte marcial, não adianta sair ‘atirando para todos os lados’. Existem várias áreas acessíveis por concursos (Tribunais, Fiscal, Policial, Bancária, etc.) sair fazendo concurso sempre que abrir edital, independente do cargo, além de somar resultados negativos, irá proporcionar um desgaste de energia fundamental para um sucesso mais sólido e desejado. Definir bem sua área de foco lhe proporcionará familiaridade com os assuntos cobrados e com as possíveis, e terríveis, bancas organizadoras. Sair colecionando estudos para concursos sem essa visão seria o mesmo que sair praticando tipos distintos de lutas, sem obter base em nenhuma deles, dificilmente terá êxito sólido em uma das modalidades. Nem mesmo para o MMA (Mixed Martial Arts – antigo Vale-Tudo) servirá tal desperdício, uma vez que ainda não existiu um campeão na modalidade oriundo puramente da luta híbrida, ou seja, os destaques do segmento têm uma base em uma determinada arte e depois mesclam- ou somam- conhecimentos de estilos alheios. Procure definir o seu ambiente de guerra, e focar neste. Não leve em conta exclusivamente o salário pago na área do concurso, isso pode ser desastroso, imagine investir anos na aprovação em um concurso e depois sofrer diariamente por não suportar o ofício ou o ambiente de trabalho. Em todas as áreas existem cargos, ou esferas, com bons salários. Defina primeiramente o que você quer ser, depois quanto vai querer receber por isso. 

2. Procure uma boa escola, ninguém consegue chegar ao sucesso sozinho, porém com o atual cenário comercial dos concursos, em cada esquina abre-se uma nova escola que, com mídias empolgantes -homens e mulheres elegantes posando de vencedores- vendem uma pseudoaprovação simples e fácil (ocorre de forma semelhante no mundo das artes marciais com a abertura de escolas de lutas devido à popularidade do MMA). Mais importante do que a marca vinculada a um cursinho, conhecer quem são os professores é fundamental. Existem muitos “aventureiros” se passando por professores para concurso, um bom professor do segmento tem que ser um eterno "concurseiro", atualizado com os entendimentos, não só dos Tribunais Superiores (no caso de professores de Direito), mas, sobre tudo, das bancas examinadoras. Conhecer os atalhos dos editais e das provas. Contudo para começar a estudar pra concurso não é viável sair fazendo cursos de matérias isoladas, nem financeira, nem estrategicamente falando. Procure a orientação de um amigo que esteja na “batalha” a mais tempo sobre as grades dos cursos oferecidos na cidade, focando a atenção no quadro de docentes, principalmente os das disciplinas mais importantes para o seu concurso. Depois de fazer um curso geral e obter uma base simples é hora de escolher seus mestres e segui-los. Poucos professores são exclusivos deste ou daquele cursinho, muitas vezes o mesmo professor é oferecido com preços mais baixos em escolas “menores” e menos conhecidas, carentes de estrutura física, mas de conteúdo idêntico. Outra maneira de ter acesso aos mestres se faz por meio a internet, as redes sociais as vezes propiciam contato direto, além das aulas dos cursos a distância, as revolucionárias web aulas. Aqueles que não dispõem de tempo para estar numa sala de aula, ou queira fugir dos transtornos do trânsito, ter acesso a aulas de professores especializados, de qualquer lugar do país, na sua casa, a hora em que você quiser, é uma ferramenta fantástica, embora requeira uma disciplina maios do que a exigida nas aulas presenciais. Só lembrando que, assim como só observar a posição demonstrada numa aula de jiu-jítsu sem praticá-la- sem repetir, só assistir as aulas não é estudar, tem que ler para fixar e utilizar o raciocínio, o mestre é só um guia que aponta o que se deve estudar e por onde, ler (praticar/ por em prática) é fundamental. 

3. Não almeje o sucesso imediato como prioridade, embora existam histórias de aprovados em seu primeiro concurso, isso foge a regra, assim como os fenômenos e revelações no mundo do esporte. A caminhada para aprovação consiste de um aprendizado constante, que envolve não só a soma do conhecimento dos assuntos e disciplinas cobradas (o que é gigantesco), mas também a forma como são abordados; quais os aspectos mais relevantes do assunto; a melhor forma de administrar o tempo na hora da prova; como ficar tranquilo no momento do teste; etc. Se equivale à soma de conhecimentos técnico, emocional, situacional, etc. do mundo das artes marciais. Além disso, o concurso para o cargo almejado nem sempre se equivalem a vestibular ou carnaval –que todo ano tem- às vezes o intervalo entre uma prova e outra ultrapassa os 4 anos, ou mais. Determinação é um dos pilares para a aprovação. O resultado desejado está lá, só resta o foco, a determinação e, principalmente, humildade para continuar após um insucesso. Seja para as provas públicas o que Wallid Smail foi (é) para o jiu-jítsu (desacreditado inicialmente por tudo e por todos – menos pelo mestre Carlson Gracie e, principalmente, por ele próprio- tornando-se posteriormente numa referência mundial no mundo das lutas, fruto de sua perseverança). 

4. Defina o seu adversário, engana-se quem pensa que o seu “concorrente” seria seu “rival”, diferente de uma modalidade esportiva, num concurso de 500 vagas, do 1º ao 500º colocado são medalhas de ouro. O maior oponente do "concurseiro" é a “banca examinadora”, logo, a máxima de Sun Tzu da necessidade de conhecer o seu inimigo para alcançar a vitória, para os concursos públicos, trata-se de saber o que as organizadoras querem que você saiba responder, e como isso é explorado nas provas. Fazer provas anteriores e questões assinadas pela referida banca é básico para aprovação. Quanto aos seus “concorrentes”, os perceba, ou os tenha, como colegas de treino, de academia. Unir-se com aqueles focados no mesmo ideal, estando todos dispostos a juntos renegarem as distrações e ajudarem nas dúvidas, nos estudos, nos “rateios” de material, ou, simplesmente, no compromisso de no horário combinado estar na biblioteca, mesmo que cada um isole-se em sua cabine individual de estudos, é uma ferramenta fantástica. Acredite, a vitória de um do grupo trará alegria e motivação aos demais companheiros de luta e de treino. 

5. Planeje seus estudos, treinos, não tão brandos, mas também não tão rígidos que você não os possa cumprir. Não adianta estipular: quatro, seis, oito horas ininterruptas de estudo se você não apresenta condicionamento e nem tempo hábil para tanto. Com um bom planejamento, e foco, duas horas de estudo podem ser mais aproveitáveis do que horas disponíveis mais extensas, porém dispersas e frustrantes. Assim como observo atletas amadores que otimizam seus treinos com concentração e disciplina, dividindo seu dia com o trabalho, família, lazer e estudos, e mesmo assim obtêm bons rendimentos na academia e nos campeonatos, vejo atletas com mais disponibilidade de tempo que não conseguem aproveitar essa vantagem por falta de planejamento, foco e concentração. Horário de estudo é horário de estudo, logo, nada de celular por perto, Facebook, televisão, etc. Ir para uma biblioteca é uma boa forma de minimizar esses inimigos. Além disso, assim como se planeja o treino para um campeonato principal na temporada, igualmente deve ser o planejamento para um concurso público, ou seja, não adianta ir com carga total se o edital almejado ainda não está na possibilidade de sair, porém não dá pra ficar esperando este sinalizar sua publicação para começar a estudar feito louco querendo correr contra o tempo. Aproveite esse tempo para aprender matérias que parecem impossíveis de se entender (semelhante a um lutador, em inter temporada, que aproveita para treinar posições e situações desconfortáveis), mas não deixe de exercitar e aprofundar-se em assuntos e matérias que você tem mais domínio e facilidade, com exercícios e, ou, compartilhando conhecimentos com colegas que não a dominam. Lembre-se aprender com quem sabe, estudar o que aprendeu e, por fim, compartilhar o aprendido, é a sequência mais eficaz para consolidação do conhecimento. Outro fator importante é, assim como corpo de um lutador precisa de um bom condicionamento, as vezes obtidos através de treinos fora do tatame, (em salas de musculação e treinamentos funcionais), seu cérebro precisa ser condicionado a horas de concentração e absorção de conhecimento, logo, nesta inter temporada de concurso ler algo prazeroso, que não lhe remeta, necessariamente, a assuntos do concurso, é semelhante àquela corridinha pra manter a forma e o bom condicionamento físico. Literatura, bons jornais e revistas, além de propiciar isso, ainda podem enriquecer seu vocabulário e conhecimento para provas discursivas, afinal não vai dar tempo de correr atrás disso quando o concurso for lançado. A intensidade do foco nos assuntos voltados ao edital tende a se intensificar a medida que for sendo sinalizada a sua publicação. Lembrando que quanto mais perto da prova, mais se deve fortalecer os assuntos e matérias de maior domínio. Tentar aprender, entender, assuntos novos na “véspera” da “luta” pode ser desesperador, além de um desperdício de tempo que poderia ser otimizado para garantir alguns pontos, ou quem sabe gabaritar, uma matéria mais consolidada. 

6. Base é tudo, e para muitos concursos Português e Matemática podem garantir vaga na aprovação, uma vez que as disciplinas de Direito são facilmente niveladas por cima, o raciocínio para estas são bastante parecidos, a depender da banca, vão da simples decoreba da letra da lei, á interpretações de doutrinadores e julgados já explorados em provas anteriores. Já naquelas exigi-se um raciocínio mais complexo, para aqueles que levaram a vida escolar na irresponsabilidade juvenil, é hora de correr atrás do prejuízo, acredite, ainda há tempo. Um bom desempenho numa prova de português oferece ao indivíduo uma margem de pontos significativamente vantajosa, a depender da prova ou cargo. Já uma prova ruim de português, basicamente te exclui do certame. Matemática (álgebra, geometria, juros, regras de três, funções, raciocínio lógico, probabilidade, estatística, etc.), embora seja cobrada em muitos concursos não é tão presente como o idioma luso. Porém, para os mais fracos na ciência das letras, pode-se ter na ciência dos números a compensação de pontos para continuar na disputa por uma nota aprovável. Não dar a devida atenção, constante, a estas duas matérias, assemelha-se a um lutador que negligencia posicionamentos básicos (guarda, postura, referências, como caminhar no tatame, etc), ele pode até ser bom em algumas situações mais complexas, mas muito improvável que consiga expor tal desempenho de forma que venha a lhe propiciar vitória, uma vez que sem a devida base está vulnerável a sair da disputa antes mesmo de iniciar seu jogo mais forte. 

7. O descanso é fase importantíssima para consolidação do esforço. Equivoca-se o "concurseiro"
que entende o sono como perda de tempo, e que ao invés de estar dormindo, deveria estar estudando. Assim como seus músculos têm na fase do descanso a obtenção do resultado que foi buscado durante os treinos exaustivos, bem como a regeneração necessária para propiciar a continuidade dos treinamentos, seu cérebro precisa “descarregar”, para áreas mais “profundas”, os conhecimento adquiridos durante a maratona de leituras e estudos, e isso se faz com horas de sono, e sono de boa qualidade. É como se o que você estudou durante o dia estivesse numa memória volátil (RAM), e quando você dorme essas informações, ou parte delas, seriam “salvas” em uma memória secundária (HD), estando assim mais fácil de serem recuperadas. A falta do descanso adequado faz com que essas informações não sejam devidamente armazenadas e se percam no “emareado” de conhecimentos adquiridos, mas não consolidados. Além de saturar mais rapidamente sua capacidade de concentração e raciocínio.

8. Procure aproximar-se da realidade, fazer questões separadas por assuntos é muito importante para fixação e domínio do que foi aprendido, como é feito nos treinos em que os combates se limitam as posições vistas durante a semana. Existem inúmeros sites na internet que disponibilizam, por meio de filtros, a questões por matéria, assunto, banca, cargo, nível de escolaridade, etc. Importante focar, pelo menos, nas questões já utilizadas pela organizadora do concurso almejado (não se preocupe, com o tempo você saberá distinguir qual banca organiza qual concurso). Outra forma de treinar a realidade também depende a rede mundial de computadores, consiste em baixar provas anteriores- tendo o mesmo cuidado quanto à instituição examinadora e o cargo- e resolver a prova por completo, marcando o tempo, para avaliar seu desempenho. Equivale no jiu-jítsu aquele rola que, começando em pé, tem o mesmo tempo de duração da luta num campeonato e tem os pontos contabilizados. A ultima, e melhor, forma de treinar a realidade na preparação para uma prova pública, consiste em se escrever em concursos, promovidos pela banca em foco, e ir fazer a prova, independente do cargo em disputa. Foi frisado no começo deste artigo que sair fazendo concurso sem foco, em várias áreas distintas, seria desperdício de tempo de desencadeador do insucesso, porém o que estamos falando agora não se trata de sair fazendo prova sem foco, o foco existe, o concurso X organizado pela banca Y, o que vale agora é fazer a prova do concurso Z que também foi organizado pela banca Y, isso irá me familiarizar com o ambiente do teste, me colocará diante de um raciocínio inédito de novas questões elaboradas pela banca, testará como anda meu desempenho nas matérias ao qual estou estudando e cairá no “meu concurso”, ajudará a administrar o tempo numa situação real de prova, a fazer redação sobre tensão, etc. Equivale ao lutador que, focando ser campeão mundial de Jiu-Jítsu, participa, durante sua preparação de campeonatos menores, inclusive de judô, para testar seu desempenho, ratificar acertos, consertar erros e preparar seu psicológico para a “batalha” principal. 

9. Aprenda, realmente, com a derrota, o caminho é árduo e repleto de contratempos, para não falar desilusões. Não seja você mesmo seu principal inimigo (não aceitando a possibilidade de derrota), acredite e lute pelo sucesso, mas saiba que ele virá posterior a(s) “derrota(s)”, seja nos simulados, nas questões isoladas, em provas de concursos experimentais, seja no concurso almejado e preparado por anos. Lembre-se, não se estuda para uma prova de concurso, se estuda até passar no concurso. Não estar ciente disso é iludir-se como um “jujiteiro” que nunca é finalizado e nunca leva ponto no treino, não digo que ele deveria fazer corpo mole para tanto, pelo contrário, este indivíduo certamente não está se expondo fora de sua zona de conforto, e dificilmente evoluirá na sua arte. Identificar quais foram suas fraquezas, e procurar corrigi-las a tempo, mesmo que isso te traga desconforto e seja desgastante, pode ser a chave para sua aprovação no próximo certame. Sentar para estudar só aquela matéria, ou assunto que facilmente compreende e dá prazer não te garantirá aprovação no concurso. Tem que se desprender da massa, tem que sair do comodismo. 

10. Foco, força e Fé, essas três palavras traduzem o sucesso para qualquer objetivo traçado, em qualquer seguimento, embora esteja decifrado nestas o enigma do sucesso, dissecá-las e aplicá-las é muito mais difícil do que compreende-las. Difícil mas não impossível. A cada ano milhares de brasileiros, oriundos de diversas classes sociais, de diversas culturas, alcançam o sonho proporcionado pela isonomia e pela impessoalidade constitucional do acesso ao cargo público. O que eles têm em comum? Não desistiram no meio do caminho. Decidir estudar pra concurso e desistir após uma “derrota” (reprovação) é o mesmo que começar uma faculdade e não concluir o curso. Foco no objetivo, Força para lutar e Fé para acreditar que perante nossos esforços Deus irá nos propiciar o que realmente for de melhor para nós. 

 Leonardo Ferreira de Lira

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