quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O que dizer da minha “consciência” política?!

A vida é feita de conflitos, alguns são como duelos “casados” previamente, tipo luta de MMA, ou Mixed Martial Arts (descendente do épico “Vale-Tudo”), na qual o adversário é pré-definido, com possibilidades de prévios estudos a respeito deste, e assim ampliar as possibilidades de uma vitória. No melhor estilo Sun Tzu. Outros surgem tipo “inimigos em série”, ou seja, tipo campeonato de jiu-jítsu, confronto por meio de chaves, onde já sabemos: quantos oponentes, seus nomes (alguns até com possibilidade do estudo já mencionado). Porém, a cada eliminação de um oponente, este não traz mais riscos e passa a agregar algo, seja “positivo” ou “negativo”, sendo então o foco e o desafio apontado para o próximo lutador. E, por fim, as adversidades podem surgir de forma múltipla simultânea, variável, tipo briga de rua inesperada, exigindo conhecimento de Defesa Pessoal. Nelas temos definidos vários opostos, muitos, as vezes, até imperceptíveis. Um triuvirato de Náutico, Sport e Santa, no qual no jogo dehoje o rubro negro é inimigo, no próximo o tricolor protagoniza esta função. Noutro dia os dois ao mesmo tempo são os arquirrivais. Ainda tem a pior situação, quando não se está diretamente no confronto, ter que torcer pelo benefício de um vencer o outro (o empate não é opção), não achar ruim determinada torcida ficar feliz, sem, contudo, apesar do resultado necessário, não se livrar do: “sua infelicidade me incomoda”.

No entanto, uma coisa é comum nos embates: o lado oposto, adversário (“ários”), fixos ou mutáveis; momentâneos, duradouros ou permanentes- Breaking Bad nos traz a fantástica experiência de mudarmos de lado, virar a casaca, a cada novo mote, a cada nova ótica do caos.

Em várias áreas da vida estes conflitos definem caráter(s) e comportamentos. Na religião são definidos o “deus” e o “diabo”- ou os respectivos plurais- com isso: o bem e o mal, o certo e o errado, a virtude e o pecado, a justiça e a injustiça, o herói e o vilão, (...) e tantos outros antônimos que são ideologias e crenças impulsionantes naturais da vida.

Como já sabido, essas ideias são perfeitamente ideológicamente opostas, ou seja, um raciocínio lógico matemático, muito objetivo e seguro para definir a complexidade dos embates verbais da humanidade (capacidade fantástica. Salvem os curiós). A negação de um é perfeitamente o inverso a afirmação do outro, uma verdadeira relação P e ~P. Se você não faz o certo, então faz o errado; se você não agrada a deus, então está agradando ao diabo; se você não faz o mal, então faz o bem... Óbvio essa visão é necessária para soluções essênciais,... e “pá rá rá...” Dr. Charles Zambohead.

Porém, isso muito tem me incomodado de uns anos pra cá, mas não na dificuldade em definir o que seria o meu “bem” e o que seria o meu “mal”, quem é o meu Deus, e quem são meus “inimigos”... Atormentam-me as definições por expressar, muitas vezes quando solicitado, minhas “opiniões políticas”. Quando digo que sou contra a pena de morte, ou que os governos deveriam efetivamente implantar políticas públicas que buscassem a ressocialização dos presos (com alimentação devidamente balanceada, sem deficit de vagas, com opção de trabalho para todos, capacitação), sou taxado de “bonzinho”, que queriam ver se fosse um criminoso o qual tenha me atingido, ou vitimado alguém da minha família. Na sequência sou logo indagado se meu pensamento seria o mesmo.

Quando sou contra redução da “maior” (menor, pela minha ótica) idade penal, sou taxado a “santo” e desafiado a levar um “menor” que cometeu um crime para minha casa. No momento em que opino contra a atual política ante drogas do Brasil, (quando não agourado, com o dissimulado: “Queria ver se...”, para que um ente meu fosse dependente químico de alguma droga “proibida” ) sou induzido e jogado num efeito borboleta que me remete um mundo de zumbis, onde todos andam chapados e alienados (como se só existissem alucinógenos no rol taxativo das ilícitas), ou então, onde todos agem loucamente, com selvageria, brigas, acidentes de trânsito, sujeira pelas ruas,... (esses efeitos que algumas drogas já legalizadas provocam, porém, na “profecia” argumentativa dos visionários, com um pouco mais de intensidade - tipo greve da OCP em Robocop …). Isso finalizado com uma voz na consciência que diz: “tá vendo? Num era isso o que você queria?”.

“Não sou PSDB”, logo, sou petista, comunista, venezuelano, cubano, (devo ter alguma tatuagem do busto do Che!). Essa tem sido a campeã em universalidade. Por não acreditar nos tucanos, isso não deveria me tornar um lulista. O fato é que não percebem que a oposição de hoje repete, basicamente, o mesmo discurso dos opositores de ontem. Com uma diferença: os 'opositores de ontem', chamemos assim, eram inéditos no poder suprassumo do Executivo nacional; os de hoje, já tiveram essa oportunidade. Lembremos. Outra divergência: políticos do alto escalão do governo foram presos, financiadores (desde antes) do poder, também. Estão atrás das grades. No passado seriam todos honestos ou inimputáveis? Ainda os são ou serão?

Chamam de “burros” e “alienados” quem votou na Dilma “apenas” por se beneficiar dos programas sociais. Não posso adjetivar assim quem já passou fome e agora tem um Bolsa Família pra alimentar seus filhos (nem proclamar o fim do programa pelo fatos de existirem fraudadores). O interessante é que muitos desses que apontam os eleitores vencedores como responsáveis pela desenvoltura da atual crise, não percebem que têm sua parcela de culpa. O atual quadro econômico (somados a outros fatores, óbvio) é oriundo de uma política econômica, que muitos economistas independentes já apontavam como irresponsável e de consequências duríssimas, que não foi criticada quando se tinha acesso às viagens (o velho pacote da CVC), o novo carro zero, a alta avassaladora do mercado imobiliário, ganhos nas ações da Petrobras, etc.

Agora a situação campeã em absoluto: Quando digo: “não votarei em Bolsonaro se ele for candidato”. Sou enquadrado, ao mesmo tempo, em todas as ocasiões e definições equivocadas dos exemplos já narrados (além de outras mais).

Bolsonaro é uma falácia, um marqueteiro do senso comum, um retrocesso,... não é ser a favor da polícia. É valorizar um modelo de “polícia” contra o qual luto (jamais sozinho) para que seja exorcizado da cultura policial. Pois são muitos dos resquícios negativos dessa “polícia” que, quando se consegue apagá-los (mesmo de forma temporária ou na mais ínfima atitude) aproximamos a sociedade a uma polícia republicana; uma polícia que não abaixa a cabeça para “defensores” dos Direitos Humanos, porque ela, a polícia, é uma das principais forças estatais instituídas para garantirem tais direitos acima de qualquer outro; uma polícia em que a corrupção interna é abjurada, principalmente pelos seus, que não hesitam cortar da própria carne, uma polícia que não pré definem "inimigos" por condição ou endereço.

Ninguém é imune de sofrer taxação ou de taxar o seu bizarro. É como a ciência da economia bem nos ensina, principalmente quando temos recursos escassos: uma escolha, necessariamente, nos remete a uma não escolha. Ou seja, para ser assim, não posso ser assado; para ter isso, tenho que abrir mão daquilo. Quem gasta para construir presídios, deixa de gastar para construir escolas (ou creches, ou praças, ou bibliotecas, ou hospitais, ou …, ou ...).


sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Arte Suave aplicada aos Concursos Públicos - 10 abordagens análogas.

“Pessoal, atentem para os concursos públicos, é uma vaquinha magra que irá lhes fornecer um copo de leite todo dia- vocês não ficarão ricos, mas de fome não irão morrer.” a frase veio aos meus ouvidos dentro de uma sala do curso de Medicina Veterinária, e teve como emissor um professor da disciplina Ecologia, isso nos anos finais da década de 90. 
O que o mestre estava profetizando era sobre o valor da estabilidade de um emprego, embora os salários oferecidos sejam, relativamente, menores do que os oferecidos na esfera privada ou nas carreiras autônomas e empreendedoras. Fui contemplado com esse conselho e consegui minha primeira aprovação para um emprego público no concurso para Agente de Segurança Penitenciária do estado de Pernambuco em 1998. Porém, se tivesse absorvido, à época, a dica com mais afinco, acredito que não tivera adquirido apenas uma “vaquinha magra” e sim uma “vaca holandesa com produção leiteira digna de campeã de exposição do gênero”, visto que as provas públicas não impulsionavam a atual “indústria” dos concursos, e conseguir aprovação não demandava de esforços exclusivos. Para ter-se ideia, fui aprovado (dentro das vagas do certame) estudando, única e exclusivamente, durante o expediente do trabalho (trabalhava no comércio). E entre um cliente e outro dava uma lida no material, uma “apostila” comprada em uma banca de jornal que continha, além dos erros de português, uma porção equivocada do edital do concurso. O fato é que hoje, por este método, muito provavelmente, não obteria sucesso em nenhum concurso que propicie o almejado “copinho de leite”, visto que a aprovação passou a ser fruto de uma preparação que envolve planejamento, disciplina, esforço, abstenção de lazeres, investimento financeiro (muito), cobrança- sua, da família, amigos e inimigos-, bem estar psicoespiritual, e, a pior de todas, a incerteza. Estudar para concurso difere, dentre outros aspectos, dos outros tipos de “estudo” visto que não se consegue título de “concurseiro”, ou seja, três, quatro, cinco anos de investimentos para a aprovação em um concurso não valerá muita coisa- para não dizer “de nada”- se o nome do candidato não constar na lista de aprovados. Já estudar para uma graduação, para uma especialização, para um mestrado, etc. ao final do investimento obtém-se o título, e este imprescritível. Logo, além do desejo de se obter um cargo público, têm-se a máxima propagada entre os concurseiros de batalha: “não se estuda para uma prova de concurso, se estuda até passar no concurso.”. Dentro deste universo desgastante de guerra intelectual, procurei utilizar (diretamente e por analogia) os ensinamentos das artes marciais na preparação para as provas públicas, ao qual seguem algumas ferramentas utilizadas. 


1. Escolha a área ao qual você almeja prestar concurso, levando em conta sua vocação e prazer em trabalhar no segmento, assim como na escolha de uma modalidade de arte marcial, não adianta sair ‘atirando para todos os lados’. Existem várias áreas acessíveis por concursos (Tribunais, Fiscal, Policial, Bancária, etc.) sair fazendo concurso sempre que abrir edital, independente do cargo, além de somar resultados negativos, irá proporcionar um desgaste de energia fundamental para um sucesso mais sólido e desejado. Definir bem sua área de foco lhe proporcionará familiaridade com os assuntos cobrados e com as possíveis, e terríveis, bancas organizadoras. Sair colecionando estudos para concursos sem essa visão seria o mesmo que sair praticando tipos distintos de lutas, sem obter base em nenhuma deles, dificilmente terá êxito sólido em uma das modalidades. Nem mesmo para o MMA (Mixed Martial Arts – antigo Vale-Tudo) servirá tal desperdício, uma vez que ainda não existiu um campeão na modalidade oriundo puramente da luta híbrida, ou seja, os destaques do segmento têm uma base em uma determinada arte e depois mesclam- ou somam- conhecimentos de estilos alheios. Procure definir o seu ambiente de guerra, e focar neste. Não leve em conta exclusivamente o salário pago na área do concurso, isso pode ser desastroso, imagine investir anos na aprovação em um concurso e depois sofrer diariamente por não suportar o ofício ou o ambiente de trabalho. Em todas as áreas existem cargos, ou esferas, com bons salários. Defina primeiramente o que você quer ser, depois quanto vai querer receber por isso. 

2. Procure uma boa escola, ninguém consegue chegar ao sucesso sozinho, porém com o atual cenário comercial dos concursos, em cada esquina abre-se uma nova escola que, com mídias empolgantes -homens e mulheres elegantes posando de vencedores- vendem uma pseudoaprovação simples e fácil (ocorre de forma semelhante no mundo das artes marciais com a abertura de escolas de lutas devido à popularidade do MMA). Mais importante do que a marca vinculada a um cursinho, conhecer quem são os professores é fundamental. Existem muitos “aventureiros” se passando por professores para concurso, um bom professor do segmento tem que ser um eterno "concurseiro", atualizado com os entendimentos, não só dos Tribunais Superiores (no caso de professores de Direito), mas, sobre tudo, das bancas examinadoras. Conhecer os atalhos dos editais e das provas. Contudo para começar a estudar pra concurso não é viável sair fazendo cursos de matérias isoladas, nem financeira, nem estrategicamente falando. Procure a orientação de um amigo que esteja na “batalha” a mais tempo sobre as grades dos cursos oferecidos na cidade, focando a atenção no quadro de docentes, principalmente os das disciplinas mais importantes para o seu concurso. Depois de fazer um curso geral e obter uma base simples é hora de escolher seus mestres e segui-los. Poucos professores são exclusivos deste ou daquele cursinho, muitas vezes o mesmo professor é oferecido com preços mais baixos em escolas “menores” e menos conhecidas, carentes de estrutura física, mas de conteúdo idêntico. Outra maneira de ter acesso aos mestres se faz por meio a internet, as redes sociais as vezes propiciam contato direto, além das aulas dos cursos a distância, as revolucionárias web aulas. Aqueles que não dispõem de tempo para estar numa sala de aula, ou queira fugir dos transtornos do trânsito, ter acesso a aulas de professores especializados, de qualquer lugar do país, na sua casa, a hora em que você quiser, é uma ferramenta fantástica, embora requeira uma disciplina maios do que a exigida nas aulas presenciais. Só lembrando que, assim como só observar a posição demonstrada numa aula de jiu-jítsu sem praticá-la- sem repetir, só assistir as aulas não é estudar, tem que ler para fixar e utilizar o raciocínio, o mestre é só um guia que aponta o que se deve estudar e por onde, ler (praticar/ por em prática) é fundamental. 

3. Não almeje o sucesso imediato como prioridade, embora existam histórias de aprovados em seu primeiro concurso, isso foge a regra, assim como os fenômenos e revelações no mundo do esporte. A caminhada para aprovação consiste de um aprendizado constante, que envolve não só a soma do conhecimento dos assuntos e disciplinas cobradas (o que é gigantesco), mas também a forma como são abordados; quais os aspectos mais relevantes do assunto; a melhor forma de administrar o tempo na hora da prova; como ficar tranquilo no momento do teste; etc. Se equivale à soma de conhecimentos técnico, emocional, situacional, etc. do mundo das artes marciais. Além disso, o concurso para o cargo almejado nem sempre se equivalem a vestibular ou carnaval –que todo ano tem- às vezes o intervalo entre uma prova e outra ultrapassa os 4 anos, ou mais. Determinação é um dos pilares para a aprovação. O resultado desejado está lá, só resta o foco, a determinação e, principalmente, humildade para continuar após um insucesso. Seja para as provas públicas o que Wallid Smail foi (é) para o jiu-jítsu (desacreditado inicialmente por tudo e por todos – menos pelo mestre Carlson Gracie e, principalmente, por ele próprio- tornando-se posteriormente numa referência mundial no mundo das lutas, fruto de sua perseverança). 

4. Defina o seu adversário, engana-se quem pensa que o seu “concorrente” seria seu “rival”, diferente de uma modalidade esportiva, num concurso de 500 vagas, do 1º ao 500º colocado são medalhas de ouro. O maior oponente do "concurseiro" é a “banca examinadora”, logo, a máxima de Sun Tzu da necessidade de conhecer o seu inimigo para alcançar a vitória, para os concursos públicos, trata-se de saber o que as organizadoras querem que você saiba responder, e como isso é explorado nas provas. Fazer provas anteriores e questões assinadas pela referida banca é básico para aprovação. Quanto aos seus “concorrentes”, os perceba, ou os tenha, como colegas de treino, de academia. Unir-se com aqueles focados no mesmo ideal, estando todos dispostos a juntos renegarem as distrações e ajudarem nas dúvidas, nos estudos, nos “rateios” de material, ou, simplesmente, no compromisso de no horário combinado estar na biblioteca, mesmo que cada um isole-se em sua cabine individual de estudos, é uma ferramenta fantástica. Acredite, a vitória de um do grupo trará alegria e motivação aos demais companheiros de luta e de treino. 

5. Planeje seus estudos, treinos, não tão brandos, mas também não tão rígidos que você não os possa cumprir. Não adianta estipular: quatro, seis, oito horas ininterruptas de estudo se você não apresenta condicionamento e nem tempo hábil para tanto. Com um bom planejamento, e foco, duas horas de estudo podem ser mais aproveitáveis do que horas disponíveis mais extensas, porém dispersas e frustrantes. Assim como observo atletas amadores que otimizam seus treinos com concentração e disciplina, dividindo seu dia com o trabalho, família, lazer e estudos, e mesmo assim obtêm bons rendimentos na academia e nos campeonatos, vejo atletas com mais disponibilidade de tempo que não conseguem aproveitar essa vantagem por falta de planejamento, foco e concentração. Horário de estudo é horário de estudo, logo, nada de celular por perto, Facebook, televisão, etc. Ir para uma biblioteca é uma boa forma de minimizar esses inimigos. Além disso, assim como se planeja o treino para um campeonato principal na temporada, igualmente deve ser o planejamento para um concurso público, ou seja, não adianta ir com carga total se o edital almejado ainda não está na possibilidade de sair, porém não dá pra ficar esperando este sinalizar sua publicação para começar a estudar feito louco querendo correr contra o tempo. Aproveite esse tempo para aprender matérias que parecem impossíveis de se entender (semelhante a um lutador, em inter temporada, que aproveita para treinar posições e situações desconfortáveis), mas não deixe de exercitar e aprofundar-se em assuntos e matérias que você tem mais domínio e facilidade, com exercícios e, ou, compartilhando conhecimentos com colegas que não a dominam. Lembre-se aprender com quem sabe, estudar o que aprendeu e, por fim, compartilhar o aprendido, é a sequência mais eficaz para consolidação do conhecimento. Outro fator importante é, assim como corpo de um lutador precisa de um bom condicionamento, as vezes obtidos através de treinos fora do tatame, (em salas de musculação e treinamentos funcionais), seu cérebro precisa ser condicionado a horas de concentração e absorção de conhecimento, logo, nesta inter temporada de concurso ler algo prazeroso, que não lhe remeta, necessariamente, a assuntos do concurso, é semelhante àquela corridinha pra manter a forma e o bom condicionamento físico. Literatura, bons jornais e revistas, além de propiciar isso, ainda podem enriquecer seu vocabulário e conhecimento para provas discursivas, afinal não vai dar tempo de correr atrás disso quando o concurso for lançado. A intensidade do foco nos assuntos voltados ao edital tende a se intensificar a medida que for sendo sinalizada a sua publicação. Lembrando que quanto mais perto da prova, mais se deve fortalecer os assuntos e matérias de maior domínio. Tentar aprender, entender, assuntos novos na “véspera” da “luta” pode ser desesperador, além de um desperdício de tempo que poderia ser otimizado para garantir alguns pontos, ou quem sabe gabaritar, uma matéria mais consolidada. 

6. Base é tudo, e para muitos concursos Português e Matemática podem garantir vaga na aprovação, uma vez que as disciplinas de Direito são facilmente niveladas por cima, o raciocínio para estas são bastante parecidos, a depender da banca, vão da simples decoreba da letra da lei, á interpretações de doutrinadores e julgados já explorados em provas anteriores. Já naquelas exigi-se um raciocínio mais complexo, para aqueles que levaram a vida escolar na irresponsabilidade juvenil, é hora de correr atrás do prejuízo, acredite, ainda há tempo. Um bom desempenho numa prova de português oferece ao indivíduo uma margem de pontos significativamente vantajosa, a depender da prova ou cargo. Já uma prova ruim de português, basicamente te exclui do certame. Matemática (álgebra, geometria, juros, regras de três, funções, raciocínio lógico, probabilidade, estatística, etc.), embora seja cobrada em muitos concursos não é tão presente como o idioma luso. Porém, para os mais fracos na ciência das letras, pode-se ter na ciência dos números a compensação de pontos para continuar na disputa por uma nota aprovável. Não dar a devida atenção, constante, a estas duas matérias, assemelha-se a um lutador que negligencia posicionamentos básicos (guarda, postura, referências, como caminhar no tatame, etc), ele pode até ser bom em algumas situações mais complexas, mas muito improvável que consiga expor tal desempenho de forma que venha a lhe propiciar vitória, uma vez que sem a devida base está vulnerável a sair da disputa antes mesmo de iniciar seu jogo mais forte. 

7. O descanso é fase importantíssima para consolidação do esforço. Equivoca-se o "concurseiro"
que entende o sono como perda de tempo, e que ao invés de estar dormindo, deveria estar estudando. Assim como seus músculos têm na fase do descanso a obtenção do resultado que foi buscado durante os treinos exaustivos, bem como a regeneração necessária para propiciar a continuidade dos treinamentos, seu cérebro precisa “descarregar”, para áreas mais “profundas”, os conhecimento adquiridos durante a maratona de leituras e estudos, e isso se faz com horas de sono, e sono de boa qualidade. É como se o que você estudou durante o dia estivesse numa memória volátil (RAM), e quando você dorme essas informações, ou parte delas, seriam “salvas” em uma memória secundária (HD), estando assim mais fácil de serem recuperadas. A falta do descanso adequado faz com que essas informações não sejam devidamente armazenadas e se percam no “emareado” de conhecimentos adquiridos, mas não consolidados. Além de saturar mais rapidamente sua capacidade de concentração e raciocínio.

8. Procure aproximar-se da realidade, fazer questões separadas por assuntos é muito importante para fixação e domínio do que foi aprendido, como é feito nos treinos em que os combates se limitam as posições vistas durante a semana. Existem inúmeros sites na internet que disponibilizam, por meio de filtros, a questões por matéria, assunto, banca, cargo, nível de escolaridade, etc. Importante focar, pelo menos, nas questões já utilizadas pela organizadora do concurso almejado (não se preocupe, com o tempo você saberá distinguir qual banca organiza qual concurso). Outra forma de treinar a realidade também depende a rede mundial de computadores, consiste em baixar provas anteriores- tendo o mesmo cuidado quanto à instituição examinadora e o cargo- e resolver a prova por completo, marcando o tempo, para avaliar seu desempenho. Equivale no jiu-jítsu aquele rola que, começando em pé, tem o mesmo tempo de duração da luta num campeonato e tem os pontos contabilizados. A ultima, e melhor, forma de treinar a realidade na preparação para uma prova pública, consiste em se escrever em concursos, promovidos pela banca em foco, e ir fazer a prova, independente do cargo em disputa. Foi frisado no começo deste artigo que sair fazendo concurso sem foco, em várias áreas distintas, seria desperdício de tempo de desencadeador do insucesso, porém o que estamos falando agora não se trata de sair fazendo prova sem foco, o foco existe, o concurso X organizado pela banca Y, o que vale agora é fazer a prova do concurso Z que também foi organizado pela banca Y, isso irá me familiarizar com o ambiente do teste, me colocará diante de um raciocínio inédito de novas questões elaboradas pela banca, testará como anda meu desempenho nas matérias ao qual estou estudando e cairá no “meu concurso”, ajudará a administrar o tempo numa situação real de prova, a fazer redação sobre tensão, etc. Equivale ao lutador que, focando ser campeão mundial de Jiu-Jítsu, participa, durante sua preparação de campeonatos menores, inclusive de judô, para testar seu desempenho, ratificar acertos, consertar erros e preparar seu psicológico para a “batalha” principal. 

9. Aprenda, realmente, com a derrota, o caminho é árduo e repleto de contratempos, para não falar desilusões. Não seja você mesmo seu principal inimigo (não aceitando a possibilidade de derrota), acredite e lute pelo sucesso, mas saiba que ele virá posterior a(s) “derrota(s)”, seja nos simulados, nas questões isoladas, em provas de concursos experimentais, seja no concurso almejado e preparado por anos. Lembre-se, não se estuda para uma prova de concurso, se estuda até passar no concurso. Não estar ciente disso é iludir-se como um “jujiteiro” que nunca é finalizado e nunca leva ponto no treino, não digo que ele deveria fazer corpo mole para tanto, pelo contrário, este indivíduo certamente não está se expondo fora de sua zona de conforto, e dificilmente evoluirá na sua arte. Identificar quais foram suas fraquezas, e procurar corrigi-las a tempo, mesmo que isso te traga desconforto e seja desgastante, pode ser a chave para sua aprovação no próximo certame. Sentar para estudar só aquela matéria, ou assunto que facilmente compreende e dá prazer não te garantirá aprovação no concurso. Tem que se desprender da massa, tem que sair do comodismo. 

10. Foco, força e Fé, essas três palavras traduzem o sucesso para qualquer objetivo traçado, em qualquer seguimento, embora esteja decifrado nestas o enigma do sucesso, dissecá-las e aplicá-las é muito mais difícil do que compreende-las. Difícil mas não impossível. A cada ano milhares de brasileiros, oriundos de diversas classes sociais, de diversas culturas, alcançam o sonho proporcionado pela isonomia e pela impessoalidade constitucional do acesso ao cargo público. O que eles têm em comum? Não desistiram no meio do caminho. Decidir estudar pra concurso e desistir após uma “derrota” (reprovação) é o mesmo que começar uma faculdade e não concluir o curso. Foco no objetivo, Força para lutar e Fé para acreditar que perante nossos esforços Deus irá nos propiciar o que realmente for de melhor para nós. 

 Leonardo Ferreira de Lira

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Jiu-Jítsu e o Sistema Carcerário

Por pelo menos duas vezes, consegui associar – em um texto - as minhas duas “profissões”, Medicina Veterinária e Segurança Pública. Na primeira análise, postada neste modesto blog, correlaciono o correto tratamento para infestação de carrapatos em cachorros (Rhipicephalus Sanguineus) e o ambiente adequado para a ressocialização de delinquentes. Em outra, faço ligação da zoonose Leishmaniose Tegumentar (o sarou morreu) com a resolução oriunda da crendice social para a problemática do egresso: “morreu, sarou”. Muito me aborrecia o fato de não conseguir transpor algo que ligasse minha terceira “profissão” – professor de jiu-jítsu – ao Sistema Carcerário, embora a revista Piauí_31, em meu Diário, já tivera feito. Correlacionar os dois universos (arte marcial e segurança pública) não é algo difícil. O jiu-jítsu pode ser citado na preparação do profissional da segurança pública com as técnicas de autodefesa (defesa pessoal policial), uma das fases do uso progressivo da força, fundamental na implantação de uma atividade policial digna de uma democracia, de um Estado Democrático de Direito; na filosofia de sua origem indiana, zen (origem esta não absoluta na opinião de estudiosos das artes marciais), em que o autocontrole, proporcionado pelos treinamentos e pelo trabalho da autoestima, funcionaria como fator de decisões equilibradas, tão cobradas cotidianamente na segurança publica; ou como uma prática esportiva a ser utilizada no combate ao estresse – segundo informações, agente penitenciário já teria sido classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a segunda profissão mais estressante do mundo – diminuindo assim, dentre outro males, o tabagismo e o alcoolismo, ou até mesmo no trabalho de ressocialização de presos com princípios de hierarquia, respeito ao próximo e ao ambiente comum, obediência a regras, etc. Porém, esses benefícios não seriam exclusivos da arte suave, faltava algo mais único, mais singular, uma correlação que assemelhasse meus dois ofícios de maneira mais exclusiva. E não é que existe! O que distingue o jiu-jítsu perante outros estilos de artes marciais são as técnicas de solo, o domínio de técnicas da luta de chão com chaves e estrangulamentos capazes de promover a submissão do oponente. Tal domínio resultou numa supremacia do jiu-jítsu perante outros estilos, comprovada na invenção Gracie, hoje febre mundial, The Ultimate Fight Championship (UFC), em que vários lutadores colocavam a prova a eficiência de sua arte marcial em combates quase sem regras. Judô, Savate, Karatê, Boxe, Jiu-Jitsu, Sambô, Luta Grego Romana, Kung-fu e até mesmo o cultural e exótico Sumô, eram representados por praticantes, campeões ou mestres, dos seus respectivos estilos. Mas um detalhe fez a diferença, pois o que para a maioria dos estilos, em suas regras, treinamentos e competições finalizavam ou ocasionavam a interrupção dos combates (uma queda perfeita no Judô: ippon, fim da luta; um knock down em lutas de contatos mais traumáticos: interrupção da luta para levantar o oponente para que a luta recomece com ambos em pé, ou até mesmo termino da luta), para a arte defendida pelo representante da família Gracie (Royce Gracie) era só o começo: o chão. Gosto de bons filmes policiais, independente da nacionalidade. Os americanos nos possibilitam visualizar a doutrina policial daquele país, sonho de consumo de muitos desavisados em certos aspectos, mas muito eficiente e adaptável em outros. Os nacionais, quando não esculacham com a já declarada e fadada corrupção policial nacional, trazem boas óticas de distorção e de reflexão das políticas de segurança publica (Tropa de Elite 1 e 2, respectivamente). O romeno Police, Adjective (Policial, adjetivo – em português) possibilitou a mim uma das mais fantásticas percepções da função policial dentro da segurança pública. Porém, muitos - ou melhor, a maioria - dos filmes policiais termina quando começa então meu trabalho, meu ofício. A sensação do dever cumprido, do fim do perigo para a sociedade, da aniquilação do(s) inimigo(s) público(s) - excetuando-se os finais terminados em morte amparada pela excludente da legitima defesa – são retratados com a prisão dos infratores. Na vida real, em reportagens policiais, a idéia é a mesma, embora todos saibam que não mais existe a pena de morte no Brasil nem a prisão perpétua (conquistas importantíssimas da humanidade). “Suzanas” Von Richthofen, “Fernandinhos” Beira Mar, “Marcolas”, “Nardonis” e demais “personagens” que finalizaram sua participação na mídia nacional com suas prisões fazem parte da missão cumprida atribuída ao meu trabalho. Só é trazido à tona novamente quando “Gulhermes” de Páduas obtêm progressão de regime e emerge a possibilidade de retorno à sociedade, mais uma vez temerosa com a possibilidade de conviver novamente com tais delinqüentes, percebendo que, em tese, não houve um fim. Eles estavam aos cuidados de um Sistema que buscara a sua ressocialização. Bem que a frase das camisas usadas por jujiteiros (praticantes da arte suave) poderiam ser slogan do Sistema Penitenciário: “O QUE PARA MUITOS É O FIM, PARA NÓS É SÓ O COMEÇO.

sábado, 2 de junho de 2012

O CONTROLE SOCIAL E A HIPERTROFIA PENAL

Desde que o ser humano passou a conviver com demais semelhantes, dentro de um determinado espaço comum, bem como com o surgimento da propriedade privada, quando um homem delimitou uma área de terra e disse a outro que aquilo lhe pertencia, e este passou a acreditar, aceitando isso, (ou seja, a figura da humanidade deixou de ser nômade, de ser isolada, e passou a se fixar e formar assim uma sociedade) regras e limites comportamentais individuais passaram a ser necessários para a harmonia nesse novo modelo de convívio. Seja de forma natural, embasados nos valores éticos, morais ou religiosos (teológicos), seja com o surgimento do Estado, pelo Direito Positivo, imposto pelo soberano, tendo atrelado a esse ordenamento uma sanção para quem o desobedece. As normas, em seu sentido amplo, são necessárias para garantir os limites e o respeito às propriedades e às particularidades dos indivíduos que convivem dentro de uma mesma sociedade. Por meio delas, principiadas em valores temporais comuns, o bem estar social se faz possível. Quando o indivíduo entende que ao respeita esse Contrato Social, ou seja, quando ele abre mão de fazer aquilo que deseja em detrimento ao “direito” do semelhante, e esse, retribui àquele com o mesmo tipo de comportamento, o Contrato se faz eficaz e a norma efetiva o equilíbrio e controle da sociedade por meio dos valores naturais. Porém, como idealizava o filosofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor da obra Leviatã (publicada em 1651), o homem traz em sua natureza a desigualdade e os instintos de conflito e interesses, fazendo com que nem todos aceitem, ou limitem, suas atitudes unicamente por meio de um contrato ético moral. Sendo então necessário o surgimento do Governo, do Estado soberano, legitimado a, não só definir regras sociais, mas a aplicar punições àqueles que não as cumprirem. Surge, superficialmente falando, o Direito Positivo, e esse direito, para adequar-se as demandas de uma sociedade dinâmica, é subdividido em ramos, como por exemplo, o Direito Civil, o Direito Comercial e até para regulamentar ações entre “pessoas” que não convivem em uma mesma sociedade, o Direito Internacional. Porém, é no Direito Penal, e em suas particularidades de punições, que se evidencia a mão forte do Estado, é nesse segmento do Direito que se legitimam o castigo e a correção daquele que atente contra as normas sociais penalmente protegidas. Sendo este indivíduo, pelo bem estar social, excluído, temporariamente, do convívio livre, a fim de ser reintegrado quando pronto para atender e respeitar os limites comportamentais impostos pelo Estado, pela sociedade. No Brasil, culturalmente (por resquícios), tem-se, ainda, a esperança no Direito Penal como uma panacéia, principalmente na figura de sua penalização mais severa, que é o encarceramento (a pena restritiva de liberdade), embora a maioria da sociedade não vislumbre as verdadeiras funções desta punição (e alguns daqueles que fazem parte do Sistema Judiciário aparentemente as ignorem). O intuito da pena de reclusão seria: (i) retirar do convívio social o indivíduo que não se adéqua as leis, para que, (ii) por meio do castigo da restrição de liberdade, seja coagido no indivíduo o respeito a regras, (iii) além da obrigação estatal de fornecer educação (escolar e social), capacitação profissional, para que o apenado possa retornar ao convívio social de forma ressocializada. Como bem explica o filosofo francês Michel Foucault (1926-1984), em sua obra Vigiar e Punir (1975), a duração da pena de prisão deve ser pelo tempo necessário à reintegração social do indivíduo que não deseje mais cometer crime ou crimes. O próprio Direito Penal, em seus princípios, procura não banalizar sua aplicação e penalização em excesso. Como por exemplo: no Principio da Intervenção Mínima, no qual se limita aplicação do Direito Penal apenas quando outro segmento do Direito não for eficaz na garantia de um determinado bem jurídico protegido. Outro principio que versa contra a criminalização excessiva é o Principio da Insignificância (bagatela), que também limita a ação penal unicamente àquela lesão que efetivamente seja significativa ao bem tutelado, ou seja, que cause realmente dano ao bem protegido. Como ultimo exemplo de limitações contra um Estado hipertrofiado penalmente temos o Principio da Dignidade da Pessoa Humana que, assim como o Principio da Insignificância, age diretamente sobre um dos elemento do crime. Este sobre o fato típico (sendo excluído na tipicidade material), aquele sobre a culpablidade, quando esta é excluída sobre a inexigibilidade de conduta diversa. Contudo, o Sistema Judiciário, como bem evidenciado no documentário Justiça (Brasil,2004), funciona de uma forma, se não aparentemente mecanizada, a supervalorizar o encarceramento. Antes essa punição fosse atribuída de forma isonômica, a justiça, desde sua estrutura de posicionamento na audiência, na verdade tende ao encarceramento de classes. O entrave entre o Ministério Público e a Defensoria Pública é feito de forma, não a fazer valer a justiça e o interesse social, mas a valorizar interesses particulares daqueles que os representam. Promotores de justiça objetivam conseguir o maior numero de condenações, e defensores buscam, em todas as brechas jurídicas legais, a soltura dos seus representados, mesmo evidenciado em muitos casos que este ainda é um deliquente em potencial. Como resultado temos um sistema carcerário super lotado, em péssimas condições (desumanas), num ambiente de improvável ressocialização e de surgimento e fortalecimento do espírito inimigo da sociedade. Ou seja, a pena de encarceramento penal no Brasil além de ser onerosa, é desigual, desumana e ineficaz. A sociedade critica, ou cobra, a criação de novas vagas no Sistema Prisional, levando como exemplo o modelo Norte Americano. Não levando em conta que, nos Estados Unidos da America, o custo em manter um individuo preso é tão significativo como o de manter um aluno estudando na Universidade de Harvard (PORTO, 2008), modelo inviável para as condições do Brasil. Outro fato a ser levado em conta é que nenhuma pesquisa, até então, demonstrou eficácia entre o aumento do encarceramento e a redução da violência. A hipertrofia penal, associada à crença da necessidade de punir para se fazer valer o contrato social mostrou-se, até a atualidade, como ineficaz e sem perspectivas reais de controle da violência. Em uma sociedade, deve-se primar pela implantação do trato social embasado na ética e na moral, isso com educação e redução das desigualdades sociais, ou aproximação dessas classes. Sendo necessária uma imposição punitiva do Estado, desde que o encarceramento sirva para que aquele, identificado por meio de um processo judicial com visão e compromisso na sua função social, seja informado, educado e reintegrado ao convívio social de modo a não cometer mais delitos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A DELINQUÊNCIA HUMANA E OS GRAMILINS.


Lembro de forma saudosa dos personagens do filme produzido por Spielberg. Recordo também como via de forma natural a muita variedade de personalidade que eclodia, de um único código genético, de forma assexuada - feito ameba- exemplares da espécie gremili, depois que a matriz levara um banho acidental. As várias características de comportamento eram visíveis, a começar pelo fenótipo de cada novo indivíduo. Um nerd, um engraçado, um deliquente. Eles não teriam sido educados diferentes, eles só teriam nascidos diferentes.
Trazendo a tona esse contexto, personalidade, venho externar a fantástica experiência que tive ao ter que me aprofundar um pouco na personalidade dos meus “clientes”, ou das características dessas, para dar aula sobre comportamento criminal para uma pós-graduação. Procurei ser o mais laico possível, depois tentei, após breve explanação, unificar duas correntes, anteriormente paralelas e auto anuláveis. Uma que defende a sociedade como fator causador do comportamento criminal e a outra tendo como maldade humana como sendo uma herança genética, um código “amaldiçoado” (continuo ainda sendo laico) que conteria a uma má personalidade.
Tendo como base da linha mais social da coisa, fui por Daniel Cerqueira e Waldir Lobão (Determinantes da Criminalidade- arcabouços teóricos e resultados empírico). Sei que os caras já aceitam um pouco da influência psíquica como fator ativo na formação do perfil criminal, mas pelo fato de já tê-los estudado quando da minha monografia, isso me pouparia um pouco de tempo. Porém reexplorei-lhes tentando focar nos seus relatos de cunho mais social. Como tese a embasar minha outra linha, fui pela popularmente acessível Ana Beatriz Barbosa e o seu mershandaisiado de novela, Mentes Perigosas. Onde, muito categoricamente ela diz que as pessoas podem ser más pelo ato de elas terem nascidas más.
Mais uma vez levei um cruzado do conhecimento quanto ao meu ambiente de trabalho, e qual deveriam ser meus verdadeiros “clientes”. Tento perceber no Sistema pessoas que entraram ali pelo fator social, mas não são pessoas más de natureza, e existem pessoas que estão ali por serem más, e o pior, que muita gente aqui fora é tão má quanto os que estão lá dentro mas passam de forma imperceptíveis, e muitas vezes são caracterizadas como pessoas boas. Sem delongas, pelo fato de não conseguir em poucas linhas sintetizar o conhecimento construído com meus colegas, co-irmãos da família Segurança Pública, em sala de aula, venho repassar a indagação da Dra Ana Beatriz quando fala que as pessoas têm dificuldade de entender que existem pessoas más. Elas fazem maldade. Às vezes até independentemente das conseqüências ruins que seus atos podem trazer para si (não falo nem em relação ao outro pois isso já ta consolidado que o sentimento e sofrimento alheio é insignificante para um deliquente).
Pois bem, recordei do nada aos Gramilins, e lembrei como foi natural o surgimento, de um ser não humano, não racional (embora fictício) nascer com personalidades própria, incluindo a má. Outro fator que me lembro é que o Gramili “bonzinho” também quebrou regras, (dirigiu um carrinho de brinquedo em alta velocidade, e causou até graça com aquilo). Outro ponto que extrai da ficção foi como a maldade pode ser alimentada (no filme após a meia noite) e, até certo ponto, irreversível.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Riphcefalus sanguíneos e a perpetuação da criminalidade.


O Riphcefalus sanguíneos é um parasita, popularmente conhecido como carrapato. Mais precisamente o carrapato do cachorro. Ele se alimenta de sangue e, ao contrário do que muita gente pensa, ele mal permanece no animal. Durante as várias fases do seu ciclo, ele “desce” do animal e muta-se no ambiente. Resumindo, basicamente só sobe no animal para se alimentar e acasalar. Porém, é durante a sua alimentação que o parasita finca suas ventosas, lesionando a pele, expondo-a a infecções secundárias (piodermatites), ou transmitindo hemoprotozoários, como a babesia sp e a erliquia canis, esses extremamente nocivos à saúde do animal, podendo deixar seqüelas e, dependendo da velocidade do diagnóstico e outros fatores, levar a morte.
Porém, muitos acreditam que a solução está no extermínio voltado para os carrapatos que estão no animal - em cima da pele do cão - ou se alimentando, ou “fazendo amor”. Seja catando um por um, o que aumenta o risco do animal contrair uma piodermatite, seja intensificando banhos nos animais com produtos extremamente tóxicos, inclusive para o cão, muitas vezes fabricados para serem usados em animais de grande porte, bovinos por exemplo. Ignorando que boa parte do problema a ser solucionado encontra-se no ambiente, e em um ambiente extremamente favorável, em termos de umidade e temperatura. Fêmeas conseguem por de 2000 a 4000 ovos, que eclodirão milhares de larvas, já órfãs, que evoluirão para milhares de carrapatos. Sem falar que em certas fases “encasulados”, estes parasitas conseguem resistir a tratamentos pontuais do ambiente, continuando seu ciclo quando o ambiente mostrar-se favorável novamente.
Saindo das ciências naturais, pragmáticas e simples de entender e controlar, como diria Max Weber, “suas tendências”, sendo enfadonho em cruzar medicina veterinária e segurança pública, qualquer semelhança entre o modelo supracitado e a equação REPRESSÃO X PREVENÇÃO, é mera coincidência.
VAMOS TRATAR O AMBIENTE!! É MENOS DANOSO E MAIS EFICAZ!!

P.S.: Aos amigos vet. Perdoem algum lapso, afinal, já são quase 5 anos longe da vet.

terça-feira, 19 de julho de 2011

PODE ATÉ NÃO FAZER A DIFERENÇA, MAS SEI QUE TO FAZENDO DIFERENTE


Fui surpreendido hoje com a colocação de uma futura colega de trabalho, “ vou estudar pra passar em um outro concurso, Segurança Publica não dá pra mim não...”, isso antes de ter sua aprovação em um concurso público homologada e, consequentemente antes de ser nomeada. Rebati dizendo: “Há! Mas às vezes quando ‘entramos’ mudamos de idéia...” na tentativa de ‘defender’ minha mais sólida escolha profissional, dentre três, e a de maior investimento até o momento, seja em carga horária, em estudo e a de maior parcela no meu orçamento.
Foi quando ela veio me mostrar que estava embasando o seu raciocínio em bases mais sólidas e racionais, ela falou: ”O negócio (Segurança Publica) é um câncer. Vem corrompido de cima pra baixo, tudo contaminado”. Beleza! Levei o primeiro 'jab'. Acordei: “você acredita que fazendo coleta seletiva do seu lixo doméstico está realmente contribuindo para com o Meio Ambiente?”. Em outras palavras eu estava perguntando: se numa rua de 30 casas, e apenas uma fazendo coleta seletiva, isso vai realmente salvar o planeta? A resposta é não! lógico!, mas aquela casa estará fazendo a sua parte. Ao conseguir transpassar 10 anos de Sistema Penitenciário sem me corromper, ao ver uma boa parte dos meus colegas também mantendo-se íntegros, não sendo afetados nem pela corrupção, nem pela desvontade de realizar o serviço público, isso motiva a fazer a minha parte. É doloroso receber a notícia que um (não vou defini-lo nem como colega, muito menos como companheiro, motivos óbvios) foi pro outro lado, mas confesso que isso fortalece os que tentam permanecer no caminho correto, no caminho ético.
Veio então com outro argumento, agora de cunho pessoal: “não conseguiria conviver vendo tanta coisa errada sem poder fazer nada.”. Como bom jujiteiro, defendi e puxei o braço livrando o armlock, e já fui dando pressão na guarda: “Mas vivemos em um mundo onde as coisas erradas estão mais expostas do que os outdoors do viaduto Joana Bezerra. Ou você acredita que todas aquelas vagas azuis, destinadas aos idosos e deficientes físicos dos shopping’s, estão realmente ocupadas por idosos e deficientes físicos?” Isso só pra exemplificar uma ‘pontinha’ do nosso caos social. Conheço pessoas que já discutiram nos estacionamentos ao verem pessoas sem nenhum dos pré requisitos para ocuparem a vaga, descerem do carro e irem tranquilamente fazer compras, (ou assistir algo numa sala do Multiplex, onde, muito provavelmente , verá na telona a organização e a cultura dos Anglo Saxônicos, ou de algum país la de cima do equador, do outro lado do Atlântico, e dirá: isso é que é país, o Brasil é uma vergonha mesmo!).
Realmente, é revoltante. Mas precisamos daqueles que não se acomodem, não se conformem, e arregaçam as mangas e lutem pelo que acreditam ser correto.
Falo isso porque o Sistema, realmente, é entupido de coisas erradas. Não preciso de ninguém pra vim em dizer isso, eu sei, eu vivencio o Sistema. Mas o que muita gente não sabe, é que o celular que entra no presídio NÃO passa pela conivência da maioria dos que ali trabalham, muito pelo contrário. Boa parte dos nossos companheiros NÃO fecha os olhos para que ilícitos entrem nos presídios. Vibramos quando, em revistas nas Unidades Prisionais conseguimos apreender pedras e mais pedras de CRACK, celulares, carregadores, bebidas alcoólicas industrializadas, etc. A primeira pergunta que nos fazem é: como foi que isso entrou aqui? Alguns atenam que somos idiotas em festejarmos nossa comprovação de uma categoria corrupta. Entendo a indagação, e essa é muito pertinente e racional. Traduzo então que vibramos com as apreensões, porque na essência da alegria está o resgate de uma derrota, conseguiram nos driblar na entrada (nos enganar, podem até ter corrompido um dos nossos, mas não todos, não a maioria), corremos atrás e derrubamos a parada la dentro, botando a cara.
Detalhe, sei que essa colega deverá passar em um outro concurso sim, e até incentivo, só queria deixar claro é que onde quer que estivemos temos que acreditar no certo, ter atitude e compromisso. Quando tento colocar o meu tijolo PODE ATÉ NÃO FAZER A DIFERENÇA, MAS SEI QUE TO FAZENDO DIFERENTE.